28/11/2012

O par autor/editor de texto


Aqui ficam oito casos famosos e, por vezes, controversos: Max Perkins e Thomas Wolfe, Ezra Pound e T.S. Eliot, Thomas Wentworth Higginson e Emily Dickinson, Edgar Allan Poe e Rufus Wilmot Griswold, Charles Dickens e Edward Bulwer-Lytton, Franz Kafka e Max Brod, Michael Pietsch e David Foster Wallace, Sylvia Plath e Ted Hughes.

A relação autor/editor nem sempre é fácil, mas nunca deixa de ser frutuosa. O que parece simples («The editor makes suggestions and proposes and points things out and acts as a sort of super-reader for the author — and the author chooses what if any of that advice he or she wants to take.», nas palavras de Michael Pietsch) quase nunca o é, mas no fim todos saem mais ricos da experiência.

26/11/2012

Hábitos

É preciso perseverança para deixar de escrever preserverança.

21/11/2012

Ser ou não ser suposto, eis a questão

A Flama é uma empresa portuguesa que fabrica eletrodomésticos. As embalagens dos seus artigos têm até o logótipo de «produto português» (que, curiosamente, diz «made in Portugal»*). Há uns dias, comprei uma tostadeira desta marca e, ao ler o folheto com os conselhos de utilização, deparo com o seguinte:


«Este aparelho não é suposto ser utilizado»? Isto parece uma má tradução do inglês this device is not supposed to be used...  Ninguém diria que se trata de uma marca nacional a comunicar para um público lusófono. 

Não seria mais fácil e menos ambíguo dizer que o aparelho não deve ser utilizado nestas e naquelas circunstâncias? Será dever demasiado assertivo? Será que assim parece mais sofisticado? Acho que não. E, com tantas alternativas todas elas mais lógicas e eficientes , não percebo o motivo do disparate. 

O «ser suposto», neste e noutros contextos, não chega a ser mau português porque não é português de todo. É um defeito de fala de raciocínio! que se generalizou, que já passou para a escrita e que devemos evitar. Recusemos absorver e promover a asneira, sobretudo se ela for importada.


Nota: a versão espanhola das instruções já diz que o aparato no debe...



*Produto mais português do que a nossa língua não há.

12/11/2012

Espaço de trabalho

Quem se dedica à escrita precisa de tempo, claro, mas também de espaço. Se houver um escritório ou uma secretária exclusivamente dedicados aos momentos de trabalho e concentração, melhor. Geralmente, mesmo quem tem pouca área disponível em casa consegue encontrar um cantinho para se instalar. 

Já muitas obras geniais se produziram em celas e mansardas exíguas, mas, convenhamos, o conforto facilita. Se quer criar uma zona de trabalho funcional e agradável e não sabe como aproveitar da melhor forma os recursos que tem, talvez seja de contratar um profissional. Foi o que fez este casal de escritores e os resultados falam por si:


Como em todas as áreas, vale sempre a pena recorrer a um profissional. ;)


Para ficarem com uma ideia do meu escritório, aqui fica uma imagem:




08/11/2012

O tamanho importa?

Lembro-me bem do primeiro livro de contos que li: Amor numa Rua Escura, de Irwin Shaw. Estava habituada a romances, na coleção «Dois Mundos», e os contos foram uma surpresa. Depois do «primeiro capítulo», o seguinte apresentava novas personagens e um outro enredo, o que me deixou intrigada. Ainda esperei que as duas histórias se viessem a cruzar, coisa que não aconteceu. Ao terceiro conto, aceitei que eram narrativas independentes e continuei a ler. Embora tivesse acabado a leitura com uma sensação de estranheza por estas histórias tão diferentes entre si estarem guardadas sob a mesma capa, percebi que gostava da fórmula. Os contos espelham bem a brevidade e/ou a intensidade de alguns acontecimentos. E o facto de serem necessariamente concentrados torna-os ideais para muitos casos. Contudo, há um certo preconceito para com o conto.

A moderna forma literária por excelência é o romance. O romance é complexo, extenso e quem consegue dominar esta maneira de contar histórias é glorificado por isso. Mas, para quem ainda não se tinha apercebido, aqui fica a novidade: um conto, uma novela ou uma micro ficção podem ser tão ou mais complexos do que um romance. Não é por um livro ter 450 páginas que se torna mais admirável. Aguentar boa prosa ao longo de muitas páginas é, sem dúvida, meritório, mas… e concentrar ideias? Trabalhar com limitações? É-o menos? Afinal, Carlos Lopes e Francis Obikwelu são ambos campeões.

E todavia... O romance é a fórmula que a maioria dos leitores de hoje parece preferir. A maioria dos editores alinha, considerando as coletâneas de contos arriscadas do ponto de vista comercial. A novela ainda é mais difícil de definir e vender, algures entre o conto e o romance. A micro ficção, então, fica-se praticamente pela internet, raramente passando a livro. Ao que parece, para muitas pessoas, quanto mais páginas tem uma obra, mais compensa o tempo e dinheiro gastos nela, como se a economia de escala se aplicasse à literatura.
O romance merece o destaque que tem, naturalmente. Há motivos para isso. Mas as outras formas literárias não devem ser deixadas em segundo plano. E não sou só eu a achá-lo. Ian McEwan e os editores da Paris Review, por exemplo, estão comigo.

A verdade é que o tamanho nada diz da qualidade. Um bom haiku tem mais conteúdo do que todas as letras do Quim Barreiros (e não são poucas). Por vezes, menos é mais. Os maus escritores, aliás, costumam ser prolixos escrever não lhes custa, não pensam muito no que põem no papel. 

Não julgue um texto pela forma. Melhor ainda: não julgue a forma. De todo. O verdadeiro leitor (e escritor) atenta às palavras, seja qual for o meio em que estas lhe cheguem.

Se nunca leu contos, experimente. Pegue num livro de vários contos do mesmo autor, em que uma única voz atravessa as diversas histórias, ou pegue numa coletânea de vários autores, se quiser provar um pouco de tudo.

E se quer começar a escrever ficção e a ideia de um romance o intimida, comece pelos contos ou por outras fórmulas mais curtas. A beleza da escrita é poder assumir todas as formas que se queira.


Caso ainda não acredite que a brevidade pode ser genial, aqui fica a mais curta história de terror do mundo:
The last man on Earth sat alone in a room. There was a knock on the door...