26/06/2012

so you want to be a writer? / então queres ser escritor?

if it doesn't come bursting out of you
in spite of everything,
don't do it.
unless it comes unasked out of your
heart and your mind and your mouth
and your gut,
don't do it.
if you have to sit for hours
staring at your computer screen
or hunched over your
typewriter
searching for words,
don't do it.
if you're doing it for money or
fame,
don't do it.
if you're doing it because you want
women in your bed,
don't do it.
if you have to sit there and
rewrite it again and again,
don't do it.
if it's hard work just thinking about doing it,
don't do it.
if you're trying to write like somebody
else,
forget about it.


if you have to wait for it to roar out of
you,
then wait patiently.
if it never does roar out of you,
do something else.


if you first have to read it to your wife
or your girlfriend or your boyfriend
or your parents or to anybody at all,
you're not ready.


don't be like so many writers,
don't be like so many thousands of
people who call themselves writers,
don't be dull and boring and
pretentious, don't be consumed with self-
love.
the libraries of the world have
yawned themselves to
sleep
over your kind.
don't add to that.
don't do it.
unless it comes out of
your soul like a rocket,
unless being still would
drive you to madness or
suicide or murder,
don't do it.
unless the sun inside you is
burning your gut,
don't do it.


when it is truly time,
and if you have been chosen,
it will do it by
itself and it will keep on doing it
until you die or it dies in you.


there is no other way.

and there never was.
se não sai de ti a explodir
apesar de tudo,
não o faças.
a menos que saia sem perguntar do teu
coração da tua cabeça da tua boca
das tuas entranhas,
não o faças.
se tens que estar horas sentado
a olhar para um ecrã de computador
ou curvado sobre a tua
máquina de escrever
procurando as palavras,
não o faças.
se o fazes por dinheiro ou
fama,
não o faças.
se o fazes para teres
mulheres na tua cama,
não o faças.
se tens que te sentar e
reescrever uma e outra vez,
não o faças.
se dá trabalho só pensar em fazê-lo,
não o faças.
se tentas escrever como outros escreveram,
não o faças.


se tens que esperar para que saia de ti
a gritar,
então espera pacientemente.
se nunca sair de ti a gritar,
faz outra coisa.


se tens que o ler primeiro à tua mulher
ou namorada ou namorado
ou pais ou a quem quer que seja,
não estás preparado.


não sejas como muitos escritores,
não sejas como milhares de
pessoas que se consideram escritores,
não sejas chato nem aborrecido e
pedante, não te consumas com auto-
-devoção.
as bibliotecas de todo o mundo têm
bocejado até
adormecer
com os da tua espécie.
não sejas mais um.
não o faças.
a menos que saia da
tua alma como um míssil,
a menos que o estar parado
te leve à loucura ou
ao suicídio ou homicídio,
não o faças.
a menos que o sol dentro de ti
te queime as tripas,
não o faças.


quando chegar mesmo a altura,
e se foste escolhido,
vai acontecer
por si só e continuará a acontecer
até que tu morras ou morra em ti.


não há outra alternativa.


e nunca houve.


Poema de Charles Bukowski, incluído na colectânea Sifting Through the Madness for the Word, the Line, the Way. Tradução de Manuel A. Domingos.

25/06/2012

Particípios passados duplos

«Se eu o tivesse morto...» / «Se eu o tivesse matado...»

«Morto» ou «matado»? «Matar» é um verbo com dois particípios passados, um é regular (matado), o outro é irregular (morto). Quando usamos um e quando usamos outro?

Ia fazer um artigo sobre isto, mas o Ciberdúvidas, essa arca do tesouro, já lá tem tudo. Nesta resposta em particular, aparece a regra simples que sigo sempre que hesito:  

Usa-se o particípio passado regular quando o auxiliar é o verbo ter, e o irregular quando o auxiliar é o verbo ser ou o estar.

A regra é fácil de memorizar, mas, se não conseguirem, lembrem-se de que a diferença (a irregularidade) está no ser e não no ter. ;)

22/06/2012

Greve!

E por falar em pontuação desgovernada, já conhecem o Greve? Este delicioso livro de Catarina Sobral, publicado pela Orfeu Mini, é de leitura obrigatória. Deixo-vos o booktrailer:


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20/06/2012

Pontuação menor?!...

A pontuação serve para muita coisa, mas cumpre sobretudo duas grandes funções: organizar ideias (conteúdo) e conferir expressividade ao texto (forma). Depois, há regras, convenções, padrões, conselhos e curiosidades que podemos cumprir, seguir, quebrar ou não. 

Em 2012, diz o espírito do tempo que devemos ser económicos no uso da vírgula e de outros sinais que tais. Inclusivamente, não há muito, houve quem desdenhasse dos pontos de exclamação. Época de austeridade, portanto.
Dessa vez foi ponto exclamativo, mas os trigémeos siameses (sim, que as reticências são um único carácter) também são rotineiramente alvo de ataques. Que não precisamos deles, que mostram sentimentalismo excessivo, que são uma bengala para os coxos do estilo. 
É certo que muita pontuação expressiva se faz sem estilo e que muito estilo se faz sem ela, mas parece-me bacoco pensar que as duas coisas são proporcionalmente inversas.
 
Leio com frequência recomendações do género: «Não ponha nada entre parênteses que consiga pôr entre travessões, e se consegue pô-lo entre travessões é porque consegue pô-lo entre vírgulas.»*
Os constrangimentos apelam ao engenho, mas isso, em si, não é estilo é mero exercício. O estilo, quando existe, pode ser extrovertido de muitas maneiras, sem pontos exclamativos ou com mil. 

 Se temos fome e há um bolo à nossa frente, porque não comê-lo? Se nos fazem falta os dois pontos, porque havemos de os reter no bolso a bem de um qualquer ideal estético? Pode ser precisamente esse o sinal que nos leva lá!

É por causa dos excessos que almas mais sensíveis apelam à abstinência.** Não devemos ficar presos a exortações pretensiosas, mas também será avisado não cair em exageros. Um ponto de exclamação mostra surpresa, dois mostram muito mais, três é um viva! e quatro é demência. Reticências sem fim são suspiros pueris, pontos de interrogação sucessivos costumam ser desnorte, parêntesis desnecessários são falta de jeito e travessões só porque sim costumam dar asneira. Assim, o que importa é saber o que se está a fazer e porquê. Pontue como quiser, mas com consciência. Saiba o valor de cada sinal e saiba porque o pôs lá. Faça como entender, só não o faça à sorte. 

Os extremos raramente ficam bem, nisso podemos todos concordar, já que quase sempre significam desarmonia. De resto, desde que se cumpram as regras básicas e se diga exatamente o que se quer dizer com ela, a pontuação é para ser usada a gosto. Entre o minimalismo da nouvelle cuisine e a abundância da paelha de Villarriba, há um leque de sabores que devemos poder provar sem complexos. Menos nem sempre é mais. Quanto mais sinais de pontuação, mais combinações possíveis, maior diversidade, mais escolha, mais liberdade. Basta encontrar o ponto de equilíbrio. 

E se no fim tiver dúvidas, pergunte a um revisor, a um editor, a um amigo ou conhecido se o prato está bem temperado, se precisa de mais sal ou se é preciso emendar a mão.


* Há também muitas recomendações parecidas relativas a aspas, itálicos, sublinhados e negritos.
** Perdi a conta ao número de vezes que li coisas do género: «Desculpa… estou atrasada!?!?!! Fiquei presa no trânsito..... nem sei o que dizer??!?!!!........» Naturalmente, torna-se mais difícil levar a sério quem se exprime assim do que quem opta por uma via mais sóbria…

18/06/2012

«Artes da Escrita»

Anuncia a Ler que «O curso de pós-graduação Artes da Escrita que se iniciou este ano na Universidade Nova de Lisboa, coordenado por Abel Barros Baptista, vai ter segunda edição no próximo ano lectivo, estando já abertas as inscrições. A equipa mantém-se: Mário de Carvalho, Gonçalo M. Tavares e Luísa Costa Gomes, escritores visitantes, ensinarão, respectivamente Ficção Breve, Arte do Romance e Escrita para Teatro. Da própria Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, continuam Fernando Cabral Martins (Poéticas Contemporâneas), Gustavo Rubim (Arte e Ensaio), Paulo Filipe Monteiro (Escrita para Cinema e Televisão) e Silvina Rodrigues Lopes (Teoria da Literatura). A novidade é o reforço com o seminário Escrita de Comédia, que estará a cargo de Ricardo Araújo Pereira.» 

16/06/2012

Ver com olhos de ler

Se quisermos descansar das palavras, podemos ver os livros com outros olhos.


15/06/2012

A vertigem das listas*

Como gosto delas! Especialmente quando têm a graça e a inteligência desta.

* Título emprestado.

14/06/2012

300 páginas depois

Acabada a tradução, volto ao ritmo habitual.