08/07/2014

Notas

Queridos dois leitores que o meu silêncio ainda não alienou,

Não é hoje que retomo a actividade regular no blogue; passei cá só para tomar umas notas neste meu caderno público, que quiçá vos façam proveito. Não são verdades absolutas nem rasgos de originalidade, mas foram pequenas epifanias que tive – que não li apenas, que tive mesmo – e que, só por isso, merecem ser grafadas. São duas ou três e ocorreram-me/constatei-as nos últimos dias (se fosse só uma ou se se me tivessem chegado mais espaçadamente, talvez não lhes desse esta honra). Ei-las:


– O contar de uma história não tem de seguir a ordem dos acontecimentos que descreve. O desenrolar ordenado, aliás, pode ser bastante aborrecido e não reflecte a errância das memórias.

– A primeira página não tem de explicar a história ou as personagens. O leitor não tem de (por vezes nem deve) saber tudo sobre a história e as personagens, muito menos logo na primeira página (mas convém que esta seja fortíssima, claro, o suficiente para o agarrar).

– Uma boa frase pode justificar plenamente a mudança da história. Porém, se essa for a única frase realmente boa, há que repensar o resto que se escreveu. Talvez seja de a deitar fora, para evitar o contraste, ou de descartar tudo o resto e começar de novo, tendo essa frase como padrão.

– Há revelações sobre as personagens que podem (e por vezes devem) ficar para o fim. Preserva-se o mistério e a complexidade, além de que se espelha a realidade. Quantas vezes não é no fim que vimos a saber certas coisas?



Notas para mim própria:

– Não tem de ser genial para ser bom. Não tem de ser tudo bom para ser bom no todo.


– Feito é melhor do que perfeito.


–Respira. Muito boa gente começa tarde e nem por isso se sai pior. Talvez o oposto. Não tenhas pressa.


Mas passa à prática. Agora é sempre melhor do que depois.