04/04/2012

Como elaborar um bom CV

Um curriculum vitae é uma ferramenta importantíssima, especialmente em tempos de crise, quando um emprego é ainda mais difícil de agarrar. É o nosso cartão de visita, a história do nosso percurso, espelhando quem somos e onde queremos chegar. Se há texto que é fundamental escrever com competência, é este.

Ao longo dos anos, analisei centenas de currículos de candidatos a várias funções e posso dizer que, para cada currículo memorável pela sua apresentação, havia largas dezenas com lacunas graves.
Eu própria passei horas e horas a aprimorar o meu CV e aconselho toda a gente a fazer o mesmo. Além de ser um exercício de reflexão interessante, ter o currículo afinado permite que o enviemos com confiança em qualquer momento.
Ainda que não esteja à procura de emprego, olhe criticamente para o seu CV e veja o que pode aperfeiçoar.

Um dos serviços que presto (www.comtexto.pt) é a revisão de currículos profissionais, de modo a causarem a melhor impressão possível. Tudo conta, desde a disposição gráfica dos vários elementos àquela vírgula decisiva. Cada caso é tratado à sua maneira, dependendo do próprio CV, mas há dicas mais ou menos universais e são essas que hoje aqui partilho:

 — Se um CV é uma história, não se esqueça do leitor. Trate o destinatário como se fosse único e especial. Ninguém gosta de ler currículos «chapa 5». Adapte o seu modelo conforme o emprego a que se candidata. Pode perder uma hora com alterações (não se esqueça de guardar o ficheiro anterior!), mas é um investimento que aumentará em muito as suas hipóteses de ser bem-sucedido.

— Faça o que fizer, fuja do modelo Europass. A menos que o anúncio o peça (ou se estiver a candidatar-se a um lugar no estrangeiro e desconheça as convenções de recrutamento desse país), evite esse modelo impessoal e inestético.

No formato Europass, as línguas que o candidato domina são classificadas em níveis (C1 e afins). Quem tem tempo para decifrar um CV? Não é mais simples para todos afirmar que se escreve e fala bem a língua?
Mesmo uma página quase em branco é mais apelativa do que aquele impresso das finanças, para além de que, numa pilha, os CV se confundem todos uns com os outros.

— Opte por uma disposição arrumadinha. Se não tem especial sensibilidade para o aspeto gráfico, não vale a pena aventurar-se. Um esquema simples, com um tipo de letra sóbrio e um alinhamento normal estarão muito bem — nada de margens/listas/cores esquisitas, tamanho de letra excessivamente grande ou pequeno. A simplicidade destaca-se no meio da confusão, não se preocupe (antes um CV despojado do que um CV árvore de Natal).

— Divida o CV em secções lógicas. A minha sugestão para o caso genérico é: dados pessoais + perfil (tipo de pessoa e profissional que é) + habilitações literárias + experiência profissional + projetos a curto/médio prazo (formação complementar, tirar o brevet, etc.) + interesses + outra categoria pertinente a nomear por si (tem Linkedin? Um blogue? Fale deles aqui, por exemplo).

— Modere a dose de informação. Não seja tão parco em palavras a ponto de não se perceber o que já fez em cargos anteriores nem tão profuso a ponto de ficarmos a saber a que horas saía e entrava do seu anterior emprego. Se tem pouca experiência, descreva a que tem com mais pormenor, se tem muita, encurte as descrições.

Não há limite de páginas para um CV, mas não use mais do que as estritamente necessárias, pois não quer aborrecer quem lê. Por outro lado, se apresentar tudo numa só página corre o risco parecer pouco empenhado.

Lembre-se de que, com sorte, poderá falar mais de cada um dos pontos numa entrevista.

— Declare guerra aos erros ortográficos. Independentemente da função a que se candidata, os erros saltam à vista e deixam uma marca negativa. É normal que escapem coisas, mas não facilite, porque as pessoas reparam sempre. Use o corretor do Word, peça a um amigo para reler ou, melhor ainda, contrate os serviços de um revisor profissional.

— Dependerá do contexto, mas, a meu ver, devem evitar-se «palavras caras», jargão técnico e estrangeirismos. Apesar das boas intenções, podem fazer com que pareça pretensioso, só dificultam a leitura e nem todo o recrutador está familiarizado com a função em causa, pelo que não adianta ser demasiado técnico. O seu CV não terá mais impacto por isso, pelo contrário.

Porquê dizer que tem «skills ao nível do alemão» se pode dizer que fala e escreve bem alemão e onde aprendeu?

— Se quer demarcar-se dos outros candidatos,  não recorra a expressões típicas de currículos, como informática na ótica do utilizador, pró-atividade, entre outras. Além de datadas, são muito pouco pessoais. O seu CV deve ser objetivo, mas não maquinal. Porque não aproveita para falar realmente de si, em vez de ficar pelos chavões? Se adotar um tom natural (sem abdicar do profissionalismo, claro), pelo menos conquistará  a atenção do recrutador.

— Um CV é uma história que vai contar sobre si e nunca deve mentir (poderá ser fatal, escusado será dizer). Porém, pode e deve conduzir criteriosamente a atenção do destinatário para aquilo que quer evidenciar.
Se tem poucas qualificações, seja criativo: numa secção de «projetos a curto prazo», por exemplo, fale do que pretende fazer, mostre que quer aprender (línguas, etc.), que é uma pessoa interessada.
Se não tem experiência na área para a qual se candidata, mostre como a sua experiência noutras áreas o preparou para este cargo, como essa aprendizagem se cruza com aquilo que esta função exige — viveu no estrangeiro, cuidou de crianças ou fez voluntariado? Procure mostrar o que aprendeu com isso.

De resto, quer comece pelas habilitações ou pela experiência, quer ordene do mais antigo para o mais recente ou vice-versa, o importante é que consiga transmitir a sua voz, sem ruído ou interrupções. Deixe o CV falar por si e não se vai arrepender.

Boa sorte!


Têm mais sugestões? Deixem-nas na caixa de comentários.

PS: Em breve falarei do que escrever e não escrever numa carta de apresentação.

5 comentários:

  1. Excelente artigo! Eu não uso o Europass, uso o modelo Europeu, que é ligeiramente diferente, pelo menos na parte das línguas é bem simples. Tenho formação em engenharia e sempre me foi transmitida a importância do uso do Modelo Europeu, por isso tenho receio de o abandonar. Mas por outro lado acredito que é indispensável dar um toque pessoal ao currículo de modo a distinguí-lo dos restante milhares, o que com modelos padrão é complicado. Uma dúvida que tenho é em relação à linguagem, por exemplo, devo descrever as funções com "realizei", "participei" ou "realização de...", participação em..."? Muito obrigada

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  2. Olá, Liliana.

    Fico contente por ter gostado do artigo.

    Cada área profissional terá as suas convenções, mas, com alguma criatividade, há sempre maneira de nos destacarmos.

    Quanto à sua dúvida, ambas as formas estão bem; o importante é garantir que usa sempre a mesma. (Pessoalmente, prefiro «participação em», deixando a primeira pessoa do singular para a carta de apresentação, mas cada caso é um caso.)

    Puxando a brasa à minha sardinha, lembro que é sempre boa ideia recorrer a um revisor de texto profissional, que limará arestas e ajudará o candidato a causar a melhor impressão possível. Um pequeno investimento desses costuma fazer uma grande diferença.

    Até breve,
    Rita

    PS: Um dos meus próximos artigos será sobre cartas de apresentação; fique atenta.

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  3. Obrigada pela resposta. Ficarei atenta com certeza ;)

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  4. Muito bem escrito, de forma simples mas directa. Parabéns! A frase que destaco: "O importante é que consiga transmitir a sua voz, sem ruído ou interrupções."

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