20/02/2012

O mesmo critério para todos os textos?

Há uns dias, a propósito de uma coisa que escrevi — «Todos os textos merecem o melhor tratamento possível.» —, perguntaram-me se isso se aplicava até a Mein Kampf

A minha resposta é afirmativa. Um revisor/editor tem a sua ética pessoal, e deve respeitá-la sempre, mas não pode ser moralista para com o texto. Por dois motivos: 

1) O texto em si não tem moral. É um veículo, no qual muita coisa pode ser transportada (ideias, sentimentos, informação…), mas o que interessa ao editor/revisor é ter o veículo afinado, a funcionar da melhor maneira possível. Tudo o mais cabe ao autor, a quem o publica, divulga, critica e lê. 
Porque não gosta das ideias contidas num texto, um impressor vai imprimir mal um livro? Não. Porque não gosta das ideias contidas num texto, o editor/revisor vai sabotá-lo, distorcê-lo, prestar-lhe um mau serviço? É certo que trabalha de perto com o seu conteúdo, mas fazê-lo iria contra a sua ética profissional. Se pressente que não conseguirá manter-se imparcial, o melhor será recusar esse trabalho. Está no seu pleno direito. 

2) A ética profissional do editor/revisor obriga-o principalmente para com o leitor. Mantendo-se fiel às intenções do autor, cumpre-lhe fazer chegar as ideias do texto da forma mais rigorosa que conseguir ao destinatário. Um texto com erros de vários tipos e raciocínios confusos não abonam a favor do autor mas, sobretudo, prejudicam a receção da mensagem. O leitor deve ter a liberdade de decidir por si aquilo que acha do texto, e fá-lo tanto melhor quanto as condições de leitura o favorecerem. A liberdade do leitor é soberana e o editor/revisor não deve limitar este direito, pelo contrário.
As ideias nefastas por vezes disfarçam-se sob a capa da confusão. Ao tornar claras as ideias perniciosas de um texto, mais rapidamente elas revelam a sua verdadeira natureza. Esse deverá ser o contributo do editor/revisor. 

Assim, sou da opinião de que até os textos malditos devem ser bem tratados. 

O que pensam sobre isto?


PS: A título de curiosidade, parece que também em termos de estilo Mein Kampf estava cheio de erros.

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