Já todos reparámos que os textos académico-científicos têm características próprias. Uma delas, e
que salta bem à vista, é alguns autores usarem a primeira pessoa do plural —
nós — em vez da primeira pessoa do singular — eu — quando exprimem as suas
posições.**
Trata-se de uma mera questão de estilo, e também de tradição,
nada tendo de incorreto. Com esta estratégia, os autores pretendem mostrar à
academia ou aos leitores uma certa humildade, evitando a afirmação de um eu, mantendo um tom mais genérico e
menos pessoal.
Contudo, isto sempre me causou estranheza… Se o autor é só um, por que razão fala como se houvesse mais gente a
defender exatamente as mesmas ideias?
Apesar de estar muito familiarizada com
esta tradição pluralizante, em vez de me parecer uma postura de modéstia,
soa-me sempre a presunção, como se se dissesse «não sou o único a pensar assim,
somos muitos».
Além do mais, numa altura em que já estamos tão contagiados
pela simplicidade e descontração dos textos em inglês, pode parecer pura afetação por
parte do autor, o que só o distancia do leitor.
O que pensam sobre isto?
* Não confundir com o «plural majestático», que, embora também troque a primeira pessoa do singular
pela primeira pessoa do plural, é usado para outro fim.
** Refiro-me apenas a quando exprimem as suas posições («é nossa hipótese», etc.), não a quando sublinham a relação autor-leitor através de expressões como «consideremos agora» ou «como vimos atrás».
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