A editora Pergaminho acaba de publicar Como Não Escrever um Romance, 200 erros clássicos e como evitá-los, de Sandra Newman e Howard Mittelmark. Este é um guia sério e ao mesmo tempo hilariante sobre o que não fazer quando se escreve um livro (romance ou outro tipo de texto, pois a extrapolação é possível e desejável).
Ao escrevermos, caímos sem dar conta em muitas armadilhas: fazer descrições longas sem finalidade aparente, omitir elementos importantes, usar a pontuação de forma desgovernada, etc. Esta check list de 200 itens ajuda-nos a perceber se temos arestas por limar na nossa obra, mas também a interpretar de forma mais crítica os textos alheios.
A meu ver, o grande trunfo do livro (embora trunfos não faltem) é o humor. Incisivos onde devem ser, os autores não são trocistas no mau sentido. Ou seja, não fazem pouco do autor que tenta pôr alguma coisa interessante no papel, procuram apenas mostrar-lhe de forma descomplexada por que caminhos não deve ir e porquê.
A nota menos positiva, e que não é de todo grave, vai para a ideia omnipresente de que um bom romance não viola certas regras. Os autores bem dizem na introdução que não apresentam regras, apenas reflexões, mas estas reflexões aplicam-se sobretudo ao romance médio, havendo sempre honrosas exceções. Vladimir Nabokov e Garcia Márquez, por exemplo, passaram por cima dos conselhos nos capítulos 1 e 2 com um trator.
Há ainda uma confusão entre «obra não publicada» e «obra impublicável», mas isso não atrapalha demasiado a leitura
Há ainda uma confusão entre «obra não publicada» e «obra impublicável», mas isso não atrapalha demasiado a leitura
O mercado está cheio de oficinas e manuais de escrita criativa — e isso é ótimo —, mas faltava este livro. Uma bíblia para uns, uma pérola para outros, recomendo-o a todos: autores, profissionais da edição e leitores em geral.
Sem comentários:
Enviar um comentário