Quase toda a gente diz ou escreve «há x dias/meses/anos atrás» e fá-lo sem pensar duas vezes. Se pensasse, constataria que quando dizemos que há é porque já houve (ou está a haver, mas, como falamos de tempo, ele já passou; afinal, tempus fugit...) e, nesse caso, dizer atrás é pleonasmo, um pouco como «subir para cima». Percebe-se que esse complemento serve para reforçar a ideia de distância, mas não é, de todo, necessário.
Desde que me chamaram a atenção para isto há uns anos, nunca mais voltei a conseguir dizer o atrás.*
Não temos de estar obsessivamente atentos a tudo que dizemos, claro, mas é divertido repararmos nestas minúsculas grandes coisas (que têm o seu lado filosófico) e é conveniente exprimirmo-nos com clareza e – aha! – economia, quase sempre sinónimo de elegância e inteligência.
*Confesso que por vezes sinto saudades de uma certa ingenuidade na expressão, de quando não pensava duas vezes no que dizia, mas depois passa.
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