28/05/2012

Dos pseudónimos

Se o meu apelido verdadeiro fosse Silva, talvez o meu apelido literário fosse Silver. Mas, como não é, nunca saberei. 

A propósito, vale a pena espreitar este artigo de Maria do Rosário Pedreira.

25/05/2012

Dicionar à antiga

Trabalho rodeada de dicionários, virtuais e em papel, mas há já algum tempo que não recorria aos cartapácios que tenho aqui na estante à minha esquerda, ficando-me pelos oráculos on-line. Nos últimos dias, porque tinha de estar absolutamente concentrada, desliguei o modem para não cair nas tentações da internet e trabalhei exclusivamente com os dicionários em papel.

Resultado? Alegria pura e simples. Não há links, é certo, mas percorrer o caminho entre as palavras pelas minhas próprias mãos soube-me que nem ginjas. É que também não há publicidade, ruído visual detestável que não nos deixa pensar tranquilamente nas coisas, saborear o verbete como quem beberica vermute.

Sem saber, já estava cheia de saudades dos encontros fortuitos de palavrinhas e palavrões, da trepidante viagem alfabética até chegar ao destino, só eu e o papel. Nada de publicidade a baba de caracol, zero sugestões de gadgets vistas sem querer pelo canto do olho, nada de jogos e de janelas a abrir sem eu lhes dar autorização. Quando abro um dicionário, a única coisa que quero abrir é a imaginação.

Há quem julgue os dicionários em papel tão obsoletos como as listas telefónicas. Que tontice. Eu não passo sem os meus, que se leem como um romance. E sabem que mais? Nestes dias sem internet nenhuma das pesquisas que fiz nestas páginas reais ficou sem resposta; pelo contrário, acho que descobri soluções que de outra forma não me teriam ocorrido.
 
Os dicionários on-line são convenientes, mas longa vida aos dicionários tradicionais!

24/05/2012

De há a zen

Em português, o existir é impessoal.

Não, não falo do livro de José Gil, refiro-me às subtilezas da nossa língua. O verbo «haver», no sentido de «existir», é sempre usado na terceira pessoa do singular. Não se diz «haviam flores naquele jardim» ou «vão haver mais oportunidades». O sujeito pode ser plural, mas a forma correcta é «havia flores» ou «vai haver mais oportunidades».

Noutros sentidos que não o de existência, o plural de «haver» já se admite. Por exemplo, em «eles haviam percorrido muitos quilómetros», «haviam» está correcto, pois neste caso «haver» funciona como um verbo auxiliar e não como um verbo existencial.

23/05/2012

Histórias

«Perguntei um dia ao neurologista Oliver Sacks o que é a seu ver um homem normal. Pergunta ociosa, sem grande importância, mas, na sua qualidade de neurologista, Oliver Sacks tinha um ponto de vista. Hesitou e depois respondeu-me que um homem normal será talvez aquele que é capaz de contar a sua própria história.»

Jean-Claude Carrière, Tertúlia de Mentirosos (Teorema)

22/05/2012

21/05/2012

Alma até Almada

«Entrei numa livraria. Pus-me a contar os livros que há para ler e os anos que terei de vida. Não chegam, não duro nem para metade da livraria. Deve certamente haver outras maneiras de se salvar uma pessoa, senão estou perdido.»   

José de Almada Negreiros, A Invenção do Dia Claro, 1921.

17/05/2012

Digno de nota


Quase todos caímos no mesmo erro repetidamente: dizermos a nós próprios «não vale a pena tomar nota desta ideia, não me esquecerei dela». A maioria das vezes esquecemo-nos. Não imagino quantas boas ideias nunca viram a luz do dia por causa desta atitude, mas não terão sido poucas.

É claro que de onde vieram aquelas ideias virão outras. O problema é que aquela pode nunca mais voltar. Além disso, o esforço de não nos esquecermos de uma coisa ocupa-nos neurónios que podiam estar a ser usados em tarefas criativas.

Apontar esses pensamentos permite-nos voltar a eles mais tarde, vê-los a outra luz e precipitar associações de ideias felizes. Ficamos livres para pensar noutras coisas e em coisas novas a partir das antigas. 
Estas notas poderão ser aproveitadas ou não, pouco importa. O importante é que as resgatámos. E quando nos sentimos bloqueados, perdidos, sem génio, visitar esse arquivo vivo consola-nos e dá-nos alento.

Basta ignorar a vozinha insidiosa que diz «não é preciso» e habituarmo-nos a pôr as ideias no papel. É meio caminho andado para fazer qualquer coisa interessante a partir dali. E mesmo que um dia perdêssemos os apontamentos, o simples facto de termos escrito o que nos ocorreu ajudaria a salvar algumas coisas do esquecimento.

Seja num bloco tradicional os de cima são da Emílio Braga, os Moleskine portugueses, e estão à venda n'A Vida Portuguesa , em papelinhos soltos (o meu caso) ou numa aplicação sofisticada, como o Evernote, vale sempre a pena gastar dois segundos a tomar nota.



14/05/2012

Espelhos

T O D A S S A D O T
A S S A
H I S T Ó R I A S S A I R Ó T S I H
T Ê M M Ê T
D O I S S I O D
L A D O S S O D A L


(Inspirado numa imagem encontrada no mar da internet.)

13/05/2012

Resultado do passatempo

Obrigada a todos os que participaram! As respostas certas eram, por ordem:

Viagens na Minha Terra, de Almeida Garrett
Os Lusíadas, de Luís Vaz de Camões
Livro de Mágoas, de Florbela Espanca

A vencedora foi Graça Águas, que receberá o livro na próxima semana.

08/05/2012

A minha citação preferida sobre livros

«It may be that you only get out of a book what you put in it and see in it only what you are.»

Pela mão do genial W. Somerset Maugham (cujo Fio da Navalha me impressionou a ponto de decidir muito cedo que iria viver dos livros e para os livros.)

07/05/2012

Passatempo

Como os posts do blogue que mais visitas tiveram até hoje foram os relativos à elaboração de CV e cartas de apresentação, lembrei-me de criar um passatempo relacionado com esses temas. Em causa está um exemplar do livro De que cor é o seu pára-quedas?, da Actual Editora. A obra é uma ótima ferramenta para quem está à procura de emprego ou a pensar mudar de área profissional. Entre muitas outras coisas, ajuda o leitor a refletir sobre os seus pontos fortes, sobre a negociação salarial e sobre a sua rede de contactos.


Como participar? É simples. Em baixo estão três imagens com nuvens de palavras. Cada imagem representa visualmente a frequência com que estas palavras surgem numa determinada obra de um autor português: quanto maior a palavra, mais vezes surge no texto. Agora só têm de adivinhar que livros são. O vencedor será o primeiro leitor a enviar as respostas corretas e o seu nome para o endereço blogue@comtexto.pt.





O passatempo termina na sexta-feira, dia 11, às 19h. Boa sorte!

04/05/2012

Gerador de rejeições

Já todos ouvimos falar de escritores célebres que receberam negativa atrás de negativa, a começar em D. H. Lawrence e a acabar em J. K. Rowling. Se há coisa para a qual todo o autor deve estar preparado é para a rejeição por parte das editoras a quem propõe a publicação de um texto. O «não» está sempre garantido. 

Foi a pensar nisso que a revista The Stoneslide Corrective criou no seu site o Gerador de Rejeições. O autor vai-se exercitando na arte de ser rejeitado e ganhando anticorpos aos vários tipos de carta que pode vir a receber. Basta introduzir um endereço de e-mail e voilà. O resultado é hilariante e é uma pena que só exista em inglês.

Em Portugal, tanto quanto sei, é raro o editor que manifesta a sua opinião quando recusa um original, ficando-se por uma ou duas generalidades, mas isso é matéria para outro dia.

(Via.)

02/05/2012

Inspiração

«Só escrevo quando estou inspirado. Felizmente, estou inspirado todos os dias às nove da manhã.» 

William Faulkner