31/08/2012

A pessoa visualmente mais incapacitada é a que não pretende visualizar

Linguagem e política são termos praticamente sinónimos, o que é natural e inevitável. Contudo, esta realidade manifesta-se, por vezes, de formas bizarras, como no caso do discurso «politicamente correto», que redunda sempre em disparate. Seja pelo eufemismo escusado, pela corrupção do sentido original das palavras ou pela complicação desnecessária das ideias, este alegadamente «correto» fere os ouvidos de quem ouve e os olhos de quem lê.
Um último exemplo disto foi protagonizado por Jerónimo de Sousa, há uns dias, que, num comício, afirmou que «é mais fácil apanhar um mentiroso do que um deficiente de uma perna». Subverter desta forma um dito popular, especialmente por parte de um político que se gaba de denominar os bovídeos pela respectiva nomenclatura, é um verdadeiro ato de contorcionismo linguístico e ideológico.

Não se negue nem subestime o poder da linguagem. Combatam-se as tolices deste género. Se não estivermos atentos, o que começa num «recepcionar» rapidamente passa a  eduquês e, num instante, estamos todos a falar a novilíngua.

30/08/2012

A culpa nem sempre é do mordomo

O blogue da Priberam, neste artigo, diz precisamente aquilo que penso há muito tempo. 
O NAO é um bicho, de facto, mas não tem sete cabeças nem costas largas. Na internet e no espírito de muitas pessoas, contudo, pululam confusões deste género:

Nem «cágado» perde o acento nem «facto» perde o «c».


Imagens como a que vemos acima circulam no Facebook e têm milhares de polegares aprovativos, comentários inflamados e partilhas, resultando na disseminação da ignorância. Que triste. 

Em caso de dúvida (duvide sempre!), consulte a página da Porto Editora relativa ao NAO, por exemplo.

29/08/2012

De volta

Com as baterias recarregadas e projetos interessantes em vista, regressa-se ao trabalho.

08/08/2012

Férias

Este blogue vai de férias, levando a sua autora consigo.
Até breve!



Fonte, em Budapeste (daqui).

07/08/2012

O valor das histórias

«O universo é feito de histórias, não de átomos», disse Muriel Rukeyser. Assim começa este artigo no site Brain Pickings (um dos meus preferidos) sobre o valor que conferimos às histórias. Elas não têm apenas um valor emocional ou intelectual, também se traduzem em dinheiro na forma de royalties ou noutra. 

As marcas, os media ou os políticos, por exemplo, são mestres na arte de converter as suas narrativas em ações alheias. Todos o sabemos, todos o sentimos e todos alinhamos.

Apesar disso, Rob Walker e Joshua Glenn decidiram fazer uma experiência para o demonstrar. A sua hipótese era a de que as histórias são tão poderosas que o seu efeito no valor subjetivo atribuído a um objeto pode ser medido concretamente. Assim, pegaram em cem objetos insignificantes e pediram a cem escritores que inventassem uma história para eles. Em seguida, puseram os objetos à venda, no e-Bay, acompanhados da respectiva história. O resultado? A tralha que compraram por 128,74 dólares foi vendida por um total de 3 612,51$. 



Podem saber mais sobre o projeto no site Significant Objects e no livro (um objeto com história sobre objetos com histórias) com o mesmo nome.

Pela minha parte, estou convencida de que o universo é feito de átomos e de histórias. A história da matéria, das coisas, do que é, e da nossa relação com tudo isso é a coisa mais fascinante da vida.

03/08/2012

Críticas demolidoras (e o que fazer para as evitar)

Há algumas críticas a que os autores bem se podiam poupar... Sermos acusados de erros ortográficos, gramaticais, de sintaxe, de estilo e relativos a factos históricos, entre outros, é uma vergonha;  recorrer a um revisor/editor de texto não é. Ernest Hemingway bem o sabia, por exemplo.

Admitir que somos falíveis é o primeiro passo para a perfeição*. Se escreve e suspeita que algumas das suas faculdades estão menos apuradas do que outras, ou mesmo que não suspeite de nada, jogue pelo seguro e fale com quem sabe do ofício — ou obrigue a sua editora a fazê-lo por si.

Domingos Amaral e a Casa das Letras podiam ter evitado algumas destas (e destas, e destas, e destas) críticas recentes se tivessem recorrido a um profissional. Não se justifica que um autor conhecido e uma chancela como essa deem à estampa um livro cheio de incongruências. Cabe a ambos garantir que um profissional competente — o editor? um revisor externo? um editor (no sentido inglês do termo)? — lê o manuscrito e assinala tudo o que estiver errado ou parecer estranho, para melhoramento/correção.

Nenhum revisor ou editor pode tornar um mau texto numa obra genial (embora haja alguns casos do género), mas eles existem para proteger até onde for possível o nome da obra, do autor e da editora. 

Fuja dos erros de palmatória como o Diabo da cruz. Do meu ponto de vista, não há crítica mais demolidora do que «eles não se deram ao trabalho».



*A perfeição não existe, mas somos todos convidados a tentar lá chegar.

01/08/2012

O Gabinete do Doutor Editor

«Adorámos todas as palavras do seu manuscrito, 
mas gostaríamos de saber se podia ordená-las de uma forma completamente diferente.»