Acabo de ler um interessante artigo sobre um autor que, no seu site, juntamente com outro material, publicou as cartas de rejeição que foi recebendo dos editores. Jac Jemc diz que aprendeu bastante com essas cartas e com a troca de impressões que manteve com alguns editores.
Em Portugal, tanto quanto sei, praticamente não se escreve individualmente aos autores que propõem a publicação de um texto (quando se responde, sequer). Será por falta de tempo? Incapacidade de fundamentar um ponto de vista? Receio de passar as ideias à pedra («não vá um dia este tipo ganhar o Nobel e eu ficar mal visto»?)
Por outro lado, não me lembro de algum dia ter ouvido um autor nacional falar das negativas que recebeu (e muito menos de quem as deu). Falta de autoconfiança?
A verdade é que praticamente todos os autores ouvem alguns nãos antes de chegarem ao sim. Essas recusas, em si, não representam um falhanço. São a opinião de alguém, num dado momento, e uma oportunidade para aprender. Daí que seja uma pena que muitos autores não recebam qualquer resposta às suas solicitações.
No estrangeiro, sobretudo no mundo anglófono, a tradição das cartas de rejeição é antiga e tem fama. Nalguns casos, as negativas acabam por ser um troféu. Mas o mercado editorial português é pequeno e fechado — o que contribui para o secretismo — e não tem agentes literários — próximos dos editores e que costumam esperar justificações para as recusas.
As editoras recebem demasiadas propostas sem interesse e muitas delas não merecem mais do que o tradicional «gratos pelo seu contacto, lamentamos informar que a obra que nos propõe não se enquadra na nossa linha editorial» (céus, quantas vezes escrevi isto!). No entanto, quando a proposta não é assim tão disparatada, gastar alguns minutos a dizer o que se achou ajudaria toda a gente — o autor, que reflete; o editor, que contribui para a formação dos autores e para a manutenção/elevação dos critérios de exigência; o leitor, que acaba por ler trabalhos mais apurados.
Se planeia propor um texto a uma casa editora, sublinhe que gostaria de receber uma resposta, mesmo que negativa. Se ela vier, pode não gostar do conteúdo, mas pedir e acolher essa opinião (que «vale o que vale») com graciosidade irá dar-lhe experiência.
Para se ir preparando, aqui fica esta sugestão bem-humorada.